segunda-feira, 24 de agosto de 2009

DESAFIO DA MARIA PRETA

A resposta ao desafio da maria preta, pode-se resumir a um nome, que é : analogias formais, e consiste na repetição de determinadas formas no mesmo quadro. É simples de se ver no quadro do castelo, feito pela criança; as formas das montanhas repetem-se nas janelas e portas do castelo, o número de elementos também, como os braços e cabeça da figurinha que repetem as três torres do castelo e as três montanhas mais proeminentes. No quadro do Bosch a repetição se dá mais evidentemente nos arcos das pontes e nos três grupos de figuras que aparecem no primeiro plano e os três grupos diante do altar, neste exemplo repete-se também as cores. Este recurso é frequentemente utilizado, pois dá à composição unidade.




Mais um banquete da maria preta
O vento não é um bom auxílio para a maria preta, dessa vez, conseguimos sucesso em apenas uma, pois o vento soprava forte tombando as marias pretas antes que pudessem levantar-se do chão. Mas mesmo com o vento e outros ventos, tivemos maria preta e banquete.

Uma Maria Preta sendo arrastada pelo vento

E a única que conseguiu vencer o vento


Os participantes foram em número de nove estão no quadro abaixo, ao estilo de “Onde está Wally?”, espero que ninguém sinta-se desconfortável aí.




E todos responderam ao desafio da maria preta e chegaram bem perto da resposta, mas sobretudo alcançaram outras respostas e atenções muito interessantes. Mais uma vez todos foram convocados a compor um texto, partindo de 4 palavras sorteadas ao acaso, para a resposta ao desafio, sabendo ou não em que consistia a tal resposta , o resultado é o que segue:

Estava mofino com dor na rótula, quando avistei Dolores cantando com linda voz ao pé da videira. Esqueci a minha dor.

André
Palavras: mofino; rótula; voz; videira.

Somente
Um delicado poema nascido
de todas as conversas possíveis
entre os três artistas em questão poderia
dar conta da resposta ao desafio.
O poema é a imagem no papel,
nascido da lama, pode
morrer no fogo que o fósforo cria.
Entre nascer e morrer: a Vida (Há vida)

Edmundo
Palavras: poema; fósforo; conversa; lama.

A evidência selvagem do quadro, ao som do bandolim e a maranduba das nossas vidas.

Antônio
Palavras: evidência; selvagem; bandolim; maranduba.

Era um tal de beber no gargalo, no alto da serra, logo depois da baía, e pertencer ao grupo dos que tocavam clarim nas loucas festas depois da meia noite.

Munir
Palavras: gargalo; baía; pertencer; clarim.

O toque do flajolé
Com suave satisfação
A moer as vísceras
Do abdômen mais rígido

Ana Flávia
Palavras: flajolé; satisfação; vísceras; moer.

Por puro impulso, fui ganhar o mundo com a trouxa de pertences às costas. De tudo de imenso que vi, o que mais impressionou foi a constelação no infinito acima de minha cabeça e o que mais doeu foi a constelação de saudades guardadas no coração.

Zilma
Palavras: impulso; mundo; trouxa; constelação.

Tenho orgulho da baga, fruto da alegoria que criei na ínsula do meu ser.

Paulo
Palavras: orgulho; baga; alegoria; ínsula.

O anacoreta vê o paquiderme no beco, no horizonte a bola.

Edilson
Palavras: anacoreta; paquiderme; beco; bola.

O enleio revela-se pelo fogo no primeiro quadro, pela grandeza das montanhas no segundo e pela mistura das cores no terceiro. Toda a atmosfera criada nas três figuras possuem algo celeste, em meio à casa e paisagem.

Marcelo
Palavras: paisagem; enleio; celeste; casa.


Abaixo alguns dos textos que foram apresentados

UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA

Chamava-se João Teodoro, só, O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua Itaoca.
— Isto já foi muito melhor, dizia consigo, Já teve três médicos bem bons — agora só um e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal dá serviço para um rábula ordiná-rio como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando...
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessi-tava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
— É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delega-do. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava ca-paz de nada...
Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais im-portante. É homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado — e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca!..,
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada botou-as num burro, montou no seu cavalo ma-gro e partiu.
— Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
— Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.
— Mas, como? Agora que você está delegado?
— Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.

Monteiro Lobato
Cidades mortas. São Paulo, Brasiliense.


Hotel Toffolo

E vieram dizer-nos que não havia jantar.
Como se não houvesse outras fomes
e outros alimentos.

Como se a cidade não nos servisse o seu pão de nuvens.

Não, hoteleiro, nosso repasto é interior
e só pretendemos a mesa.

Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Tudo se come, tudo se comunica,
tudo, no coração, é ceia.


Carlos Drummond de Andrade



A ROSA MÍSTICA

A primeira vez
que tive a consciência de uma forma,
disse à minha mãe:
dona Armanda tem na cozinha dela uma cesta
onde põe os tomates e as cebolas;
começando a inquietar-me pelo medo
do que era bonito desmanchar-se,
até que um dia escrevi:
'neste quarto meu pai morreu,
aqui deu corda ao relógio
e apoiou os cotovelos
no que pensava ser uma janela
e eram os beirais da morte'.
Entendi que as palavras
daquele modo agrupadas
dispensavam as coisas sobre as quais versavam,
meu próprio pai voltava, indestrutível.
Como se alguém pintasse
a cesta de d. Armanda
me dizendo em seguida:
agora podes comer as frutas.
Havia uma ordem no mundo,
de onde vinha?
E por que contristava a alma
sendo ela própria alegria
e diversa da luz do dia,
banhava-se em outra luz?
Era forçoso garantir o mundo
da corrosão do tempo, o próprio tempo burlar.
Então prossegui: 'neste quarto meu pai morreu.
Podes fechar-te, ó noite,
teu negrume não vela esta lembrança.'
Foi o primeiro poema que escrevi.

Adélia Prado
O Pelicano



TRAGÉDIA BRASILEIRA

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um na-morado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, La-vradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em de-cúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira
1933

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Desafio da maria preta










Três quadros, três autores, um que viveu entre os séculos XV e XVI, Hieronimus Bosch, um dos maiores mestres da pintura, outro é uma criança, anônima, de provavelmente 10 anos à época em que fez o desenho, que foi em 1998 e outro uma aquarela de um artista contemporâneo pouco conhecido, mas bastante experimentado na técnica .
Os três entretanto utilizam um mesmo recurso na composição dos seus quadros aqui apresentados.
Qual recurso é esse?